Seleção e tradução de Francisco Tavares
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O Ocidente e a perigosa histeria sobre a ameaça russa
Publicado por
em 23 de Setembro de 2025 (original aqui)
O impulso histérico para dar vida a uma escalada contra a Rússia intensifica-se, com os países da NATO inventando constantemente novos pretextos para promover essa esclada. No início, foram os drones russos sobre os céus polacos devido a uma perturbação electrónica que os desviou – como demonstra a invasão na Bielorrússia, um país aliado a Moscovo, que certamente não tinha nenhuma necessidade de ameaçar. Intrusão de que resultou a destruição de uma casa – felizmente sem vítimas – e na violação do espaço aéreo da residência do Presidente polaco por um drone.
As habituais acusações bombásticas contra a Rússia para ambos os episódios, seguidas por negações sussurradas porque se descobriu que a casa tinha sido destruída por um míssil de um F-16 da NATO, dizem uns loucos, e que o drone era controlado por um rapaz ucraniano e uma rapariga bielorrussa. Em seguida, houve o alarme sobre a intrusão de um drone, dizem eles russo, na Roménia e a suposta invasão de jatos da Rússia nos céus dos países da NATO.
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Uma escalada progressiva que teve o seu momento epifânico no alarme lançado pela belicista Ursula von der Lyen sobre um suposto ataque russo ao seu avião quando aterrava na Bulgária, alarme que se demonstrou ser totalmente sem fundamento, de facto inteiramente inventado
Se lembramos o episódio, é porque a invenção de Von der Leyen era, além de tola, de uma gravidade absoluta: o facto de não ter sido afastada do alto cargo que preside lança luz sobre os alarmes subsequentes.
Tudo incidentes usados para levar a um confronto com a Rússia, independentemente de terem sido causados por distúrbios electrónicos ou se são devidos a intrusões limitadas que são registadas com tanta frequência nos céus dos países da NATO por jatos russos ou nos céus da Rússia por jatos da NATO.
Nem, é claro, a mais pequena consideração da hipótese de uma falsa bandeira para induzir a NATO a envolver-se em guerra, conspirações sombrias das quais a Ucrânia e seus patrocinadores, a partir de Maidan, deram provas em abundância.
Não é por acaso que escrevemos a hipótese da falsa bandeira: o alarme para os drones fantasmas que surgiram perto dos aeroportos de Copenhaga e Oslo, causando o seu encerramento, é um algo óbvio neste sentido.
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Os drones russos não podem alcançar os céus dinamarqueses sem serem vistos por nenhum dos países que deveriam sobrevoar para chegar lá ou pelos sofisticados sistemas de alerta da NATO que examinam cada centímetro do mar e do céu dos mares Báltico e do Norte. Além disso, depois de semearem o alarme, esses drones desapareceram no ar, como se nunca tivessem existido…
Alguns, na verdade muitos, estão a brincar com o fogo, com a ministra britânica dos Negócios Estrangeiros, Vette Cooper, um país que há muito pressiona por um enfrentamento NATO-Rússia, que chegou a declarar: “ao Presidente Putin, digo: as vossas acções imprudentes correm o risco de provocar um confronto armado directo entre a NATO e a Rússia […] Estamos vigilantes. Estamos decididos. E se enfrentarmos aeronaves que operam no espaço aéreo da NATO sem autorização, fá-lo-emos”. Aviso incendiário imediatamente apropriado pelo Primeiro-ministro polaco Donald Tusk.
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Tudo está preparado para abater um avião russo acusado de ter invadido o espaço aéreo da NATO, também porque, tal como aconteceu com alegadas violações anteriores, não há obrigação de apresentar provas sobre a alegada invasão aérea.
O abate teria várias consequências. Em primeiro lugar, colapsaria o diálogo Rússia – EUA levado a cabo por Trump, uma iniciativa que irritou grandemente os partidários da guerra global. Em segundo lugar, levaria Trump a retomar o apoio militar a Kiev, restaurando o fluxo de dólares para o dispositivo industrial militar dos EUA, reduzido a um fio pelo golpe do presidente dos EUA para fazer os europeus pagarem pelas armas de Kiev.
Além disso, eliminaria a resistência da opinião pública europeia ao rearmamento continental [europeu], que os seus obstinados líderes vêem como a única saída do túnel que os destina ao empobrecimento progressivo (causado pelas sanções impostas à Rússia e pela recessão dos laços energéticos com ela). Por último, mas não menos importante, permitiria que Netanyahu e os seus associados construíssem o grande Israel sem serem perturbados pela opinião pública Ocidental; e, se a situação se precipitasse, também lavaria a vergonha do genocídio palestiniano no banho de sangue global.
Até à data, apesar de todas as sombras que podem pesar sobre o personagem, e não são poucas, a força que mais restringe esse desenvolvimento é Trump, que está a resistir, à sua maneira – alternando ameaças com aberturas –, às pressões para devolver os Estados Unidos às glórias da era Biden. Resistência cada vez mais difícil na ausência de eventos que podem ajudá-lo ou de plataformas dentro da liderança Ocidental.
Ontem, o discurso de Putin, no qual ele emitiu um aviso oportuno e não-obliterável: ao afirmar que o seu país está pronto para enfrentar qualquer ameaça, ele especificou que a Rússia responderá “não com palavras, mas com medidas técnico-militares”. É o mesmo aviso que tinha emitido quando a presidência Biden desafiou abertamente Moscovo, abrindo as portas da NATO a Kiev.
No entanto, juntamente com o aviso, uma nova abertura: a Rússia, disse ele, está pronta para prorrogar por um ano o Tratado New Start, o último acordo remanescente sobre o controle de ogivas atómicas, que expira em fevereiro, desde que os EUA façam o mesmo.
Trump disse que se trata de uma “boa ideia“. A opção, além de preservar o fio condutor do diálogo entre as duas potências, dado o prazo temporário, poderia reabrir uma mesa de negociações sobre o assunto, com as delegações dos seus respectivos países chamadas a confrontar-se. Um confronto que abre espaços para um amplo diálogo à margem do diálogo oficial. Abriria perspectivas.
O autor: Davide Malacaria, jornalista italiano e blogger, escreveu no católico “30giorni” e dirige o sítio Piccole Note de que é fundador. “Trabalhava numa revista, mas já não trabalho. Mas a vontade de olhar para os jornais continuou a ser a de captar lampejos de inteligência e de conforto sobre os assuntos do mundo e da Igreja. E de as comunicar aos outros. Daí a ideia deste pequeno sítio. Uma coisa pobre, sem pretensões, que espero que seja de alguma utilidade para aqueles que partilharem estas páginas comigo. Com o passar do tempo, Piccole note enriqueceu-se com colaborações queridas. Não como resultado de uma procura laboriosa, mas através de uma feliz acumulação espontânea. Uma riqueza para o sítio, mas muito mais para os nossos pobres corações.”







